VENEZA está longe de ser comum, mas já foi tão amplamente explorada por turistas, tão bem definida por escritores e tão celebrada por poetas que qualquer amador com boas intenções terá grande dificuldade em mostrar algo novo sobre a cidade. Meu atrevimento foi motivado pelo desejo de homenagear minha doce Emília, após comemorarmos seu aniversário na Serenissima Repubblica di Venezia.
                         Amenizado o senso de pretensão por um bom motivo, escrevo sobre Venezacom respeito e admiração, homenageando minha amada ao publicar fatos e fotos de nossos inesquecíveis momentos na Sereníssima e ao mostrar ao leitor nosso olhar sobre a cidade. Obrigado, Emília, pelo encanto que é viver ao seu lado e pelo prazer de o fazermos na mais perfeita sintonia.
 
______________________________________________________________________________________________________________________________________________
Veneza, Burano, Torcello e Murano. Uma escapada romântica (e comemorativa)
                        Todos sabem que Veneza ameaça afundar, seja em decorrência do peso de seus palácios construídos sobre precárias fundações de madeira, seja pela ação da Acqua Alta, o romântico termo usado para definir a inundação de Veneza pelo mar.  A despeito dos esforços do homem, todavia o mar não encontra resistência à inglória luta pela sobrevivência da cidade. Há muito já se foram os tempos em que a Sereníssima não vivia tais efeitos, quando o mar ainda não tinha elevado tanto seus níveis e ela reinava solene na Idade Média e no Renascimento. Sua importância, entretanto, mantém-se até hoje.
  
                        Tão dignas quanto inofensivas, as ações do homem não impedem o lento, progressivo afundamento da cidade.  Ao contrário da Torre de Pizza - cujo colapso foi finalmente interrompido pela intervenção da engenharia - nenhuma ação parece conter a tomada da cidade pelo Mar Adriático.  Há os que dizem que antes de afundar Veneza apodrecerá pela umidade que corrói suas alvenarias, efeito francamente visível por qualquer visitante. Entretanto, independentemente de sua trágica realidade, a cidade mantém o memso poder há séculos: desperta emoções inigualáveis, ainda que algumas contraditórias, mas jamais indiferença. Talvez seja este o motor que impulsione a tantos na tentativa de descrevê-la.
 
                         Muitos afirmam que Veneza é a mais romântica cidade do planeta, outros que é mais charmosa do que romântica, e alguns que a maioria dos turistas não sabe distinguir uma coisa da outra. Para mim a cidade tem mesmo o poder de despertar insuspeitas novas paixões, mas é perfeita também para os já apaixonados. Não consigo recordar de outra com tal apelo turístico e e ao mesmo tempo tão romântica. Assim Veneza é vendida no mundo, tão bem que eu mesmo admito não ter resistido ao seu marketing
                         Seja qual for o olhar que lhe designe o visitante, há um ponto sobre o qual ninguém diverge: o mundo ficará muito mais pobre quando ela ruir ou afundar. Enquanto o mar não toma sua terra, a Serenissima continuará sendo uma deliciosa armadilha turística e romântica.
  
                         Não foi a primeira vez que estivemos na cidade, tampouco a que fomos marcados por sua inconfundível arquitetura. O gótico-veneziano impressiona sob qualquer ponto-de-vista, mas é um deleite quando admirado de dentro de um táxi aquático, os personalíssimos, luxuosos barcos de madeira venezianos que tornaram-se uma atração à parte. Durante nosso trajeto do aeroporto Marco Polo à Piazza de San Marco víamos palácios que abrigaram fabulosas histórias de romantismo genuíno, um reencontro tão marcante e especial e sentido quanto é impossível descrevê-lo. Sabíamos ser fugaz, por isso o contemplamos em silêncio e sorrindo, como se quiséssemos eternizá-lo, ou mesmo porque soubéssemos que ao fim do percurso nos aguardava uma Veneza real, de armadilhas turísticas, de preços extorsivos, com fluxo turístico de alta temporada, muito calor e um excesso de romantismo mercadológico que beira o mau gosto, além da má conservação da cidade.
  
                          Há sempre um novo jeito de olharmos para um destino conhecido, algum novo motivo para o revisitarmos. Rever lugares é um dos grandes prazeres em viagens. Havia tantos destinos novos, que somados a tantos por rever que não foi fácil encontrarmos o “lugar ideal” para a comemoração. Temos uma extensa lista de destinos que nos atraem, especialmente para nós, de gostos ecléticos e quase sem preconceitos. O mundo é tão pleno de lugares que permeiam nossos desejos que a lista vai de Palau à Birmânia, de Timbuktu a Botswana e passa por mais de três quartos do planeta. Há tantos lugares desejados, tantos por revermos que minha imaginação deu duas voltas ao redor do planeta - em zig zag - enquanto tentava eleger o ideal para a comemoração do aniversário.  O primeiro problema consistia em conciliar distâncias com o tempo da viagem, cinco dias, o que reduziu os destinos a lugares mais próximos do que Bangkok e Chiang Mai, os primeiros a me ocorreram. De tão desejados, tornaram-se os próximos, programados para novembro, com uma esticada ao Cambodia e Angkor Wat. Chegamos quase a Zanzibar, que deixamos para fevereiro de 2012, e por pouco não embarcamos para Malta, mas nenhum destes peparecia apropriado ao propósito da viagem: turismo e descanso, lazer e passeios de interesse cultural, comemoração. 
   
                         Nenhum outro lugar pareceu tão perfeito quanto Veneza me ocorreu. Ao sugerir a cidade, um entusiasmado iuuupiiii!! e alguns pulinhos selaram o destino. Ali mesmo, diante do Atlas, já nos imaginávamos olhando por uma sacada sobre o Grande Canal, caminhando de mãos dadas pelas calles estreitas, dando uns beijos carinhosos e românticos debruçados sobre um gradil ornado de alguma pequena ponte em arco, apreciando uns Tintorettos, almoçando numa osteria escondida, degustando um prosecco e uns cicchetti na varanda de um caffé, passeando de gôndola ou nos perdendo nos bairros de uma Veneza menos turística. 
  
                          O evento não estaria perfeito sem uma hospedagem apropriada à comemoração do aniversário de alguém tão importante na minha vida, que tantas alegrias e felicidades vem me proporcionando desde que nos conhecemos e nos casamos, que tanta felicidade compartilhamos em maior e melhor qualidade a cada novo dia.
                          A lista de hotéis à altura da intenção era encabeçada pelo Cipriani, ainda que este jamais estivesse entre os possíveis. Optamos pelo Hotel Danieli (Castello 4196), umStarwood da categoria Luxury Collection, ótimo e magistralmente localizado, ainda mais adequado para associados do SPG, os quais podem usar suas milhas acumuladas trocando-as por hospedagem, upgrades e outras vantagens. Perfeito para nós.
   
                          O Hotel Danieli é um desses em que a hospedagem torna-se uma experiência, não exatamente pelo luxo, mas pelo charme de quem ocupa três palácios dos séculos XIV, XIX e XX decorados com profusão de vidros e lustres de Murano, tapetes antigos, colunas brilhantes de mármore, obras de arte e telas antigas. O mais antigo deles - do século 14 - tem 225 habitações.
  
                         O hotel está entre os mais prestígiados de Veneza e há uma extensa variedade de habitações, quase todas com mobiliário antigo em estilo veneziano, o que significa dizer muito dourado e rococós. Os apartamentos do Palazzo Danieli Excelsior foram recentemente redecorados pelo designer Jacques Garcia em 2008, o mesmo encarregado do projeto do belíssimo Hotel La Mamounia, de Marrakech. Nas novas habitações usaram-se tradicionais tons de vermelho escuro e terra, resultando um sério confronto com o estado geral das demais unidades, estas também reclamando por inovações, modernizações, atualizações e reformas. 
  
                       O terraço do restaurante Terrazza Danieli - de onde se tem uma das paisagens mais exclusivas de Veneza – é uma atração fabulosa. Ali a cozinha do chef Gian Nicola Colucciproduz especialidades venezianas, ainda que notáveis segundo os comentários, não nos encantou. O lugar, todavia, faze plena justiça ao prestígio que desfruta e honra a vista deslumbrante.  O desjejum cedo é além de um prazer, um convite a uma experiência adorável, especialmente antes das oito da manhã, quando o calor ainda não atravessa o toldo que à noite é recolhido para que o céu seja pleno. Outra parte notável do hotel é seu lobby, tão veneziano quanto pode ser qualquer outro palácio da cidade. Candelabros de vidro muraneses, tapeçarias opulentas, pilares de mármore polido, mobiliário, escadarias, arquitetura e tudo mais que nos remete ao tempo dos Doges. 
  
                       Os produtos de quarto são assinados por Laura Tonatto e nestas novas unidades uma série de modernidades integra o quarto, entre elas uma TV de LCD de 32 polegadas com múltiplos canais por satélites, Internet de alta velocidade, iluminação dimerizada, roupões aveludados e toalhas em profusão, banheiros com metais e louças de primeira e outros confortos. O hotel figurou na Gold List 2011 da Conde Nast Traveller e tornou-se um dos pontos altos de nossa estada. O jantar de comemoração foi no Cipriani, cuja reserva foi efetuada com dois meses de antecedênca, este sim, elegante como todo Orient Express, uma experiência incomparável.